Talita Galhardo Martins Borges Sousa
A subprefeita de Jacarepaguá conta seus planos e prioridades para o bairro.
Reportagem: Nelson Cardoso e Miguel Sá | Fotos: Ernani Matos
Em janeiro, o Prefeito eleito Eduardo Paes retornou com as subprefeituras no lugar das superintendências. Estas eram 17, que foram reagrupadas em oito subprefeituras, só que mantendo uma exclusiva para Jacarepaguá. Para gerir este bairro, que é quase um município, o prefeito Eduardo Paes nomeou Talita Galhardo Martins Borges Sousa.
No dia 22 de março, o JNBJ bateu um papo com a subprefeita sobre as suas prioridades para Jacarepaguá.
JNBJ: Fale um pouco da sua expectativa como subprefeita e como você está vendo a sua nova função. Como é que foram esses três primeiros meses?
Talita: Olha, primeiro eu vejo isso como missão. Porque não é fácil. A gente sai de uma zona de conforto e pega uma cidade que estava estagnada há quatro anos. Quando o prefeito mudou de superintendência para subprefeitura, ele enxugou de 17 superintendências para oito subprefeituras: Jacarepaguá, Barra, Ilhas, Zona Norte, Zona Sul, Zona Oeste, Grande Tijuca e Centro. Ele pegou pessoas que são de completa confiança dele, que há muitos anos ele conhece e que tem completo conhecimento prévio das suas áreas, e determinou:
“agora vamos dar voz aos subprefeitos, para que as pessoas possam saber e ter acesso a eles”.
Ele falou, inclusive, para usarmos rede social. Eu já usava normalmente, mas ele deu a incumbência de todos fazerem as suas e estarem presentes com nome e sobrenome, colocando a cara a tapa mesmo. Quem está no cargo público tem que ter nome e sobrenome para dar transparência. Na Internet, as vezes tem uns Instagrans fakes da vida, que vem me xingando, cobrando alguma coisa. Me diz quem você é e eu chego lá e tento resolver!
São mais de 760 mil moradores em Jacarepaguá, não é fácil. Tem cidade que tem cinco mil, dez mil pessoas... Calcule quantas cidades tem dentro de Jacarepaguá. O trabalho do subprefeito vai ser maior (que o das superintendências). As subprefeituras vão estar alinhadas com os secretários, agindo em conjunto com os presidentes de órgãos e autarquias para melhorar a vida no bairro.
A população estava sedenta de poder público nas ruas. Muitos me falaram, não vejo alguém do órgão tal, ou um subprefeito, há muito tempo aqui. Eu estou de domingo a domingo na rua. Trabalhei sábado e trabalhei domingo. Eu acho que fui recebida muito bem. Apesar de o orçamento estar muito curto, já consegui mostrar que com vontade já faz muita coisa, e acho que com o passar do tempo a prefeitura vai começar a funcionar direito, como funcionava antes.
JNBJ: Um abordagem interessante que você falou foi sobre o enxugamento. Jacarepaguá sempre quis ser independente da Barra. Geramos mais receita de IPTU e temos um parque industrial que gera muito mais receitas do que a Barra. Jacarepaguá sempre quis um subprefeito aqui, e nos dois governos do Eduardo Paes ele não permitiu isso. Foi justamente no governo do Crivella que houve a separação. Por que o Prefeito manteve a separação?
Talita: Mas aí é que está: o prefeito Eduardo Paes costuma falar que ele melhorou muito. Já amadureceu. E essa separação, como você falou, o Crivella separou muito mais. O Eduardo juntou várias partes da cidade, mas Barra e Jacarepaguá, ele viu a necessidade, pelo crescimento populacional, de deixar Jacarepaguá separada até porque Barra tem menos da metade do número de habitantes daqui. Se voltasse a juntar, seria inviável para uma pessoa só, para um subprefeito. E só tem Jacarepaguá comigo.
JNBJ: No mandato do Paes, eu levei ao (na época subprefeito) Tiago Mohamed um demonstrativo da receita do IPTU de Jacarepaguá em relação a Barra e perguntei: por que os investimentos em infraestrutura são muito mais na Barra? Faço a mesma pergunta para você.
Talita: Comigo não tem isso não, e pode ter certeza. A gente brinca, lógico, pelo acesso que eu tenho aos órgãos, mas quando vejo a Rioluz, vejo atuando na Barra, ou então a Comlurb, ligo com os nossos gerentes locais, ligo com o presidente às vezes e falo: esquece a Barra! Vem para Jacarepaguá. Na Barra já está tudo ajeitadinho. E eles falam: “Talita, tem que fazer a cidade toda”. Mas não esqueça de Jacarepaguá. Eu estou tomando conta de Jacarepaguá com unhas e dentes. Vai melhorar.
JNBJ: Talita, isso é um compromisso seu com os moradores de Jacarepaguá?
Talita: Sim. Absolutamente. Estou aqui para isso. Estou ligada cem por cento em Jacarepaguá.
JNBJ: Você mora em Jacarepaguá?
Talita: Sou nascida e criada em Jacarepaguá. Estudei aqui a vida toda. Hoje eu moro na Barra. O que eu falei da brincadeira, só para te explicar, é que às vezes eu venho no caminho, eu passo e falo “aqui tá direitinho. Pode mandar o pessoal pra Jacarepaguá”. É por isso, entendeu? Eu passo e “tira esses garis aqui da Barra e leva lá pra Jacarepaguá”. Mas é brincadeira, obvio. Mas eu me dou muito bem com o subprefeito da Barra. Mas o meu foco agora é Jacarepaguá. Brinco exatamente por isso. Agora o meu coração é Jacarepaguá.
JNBJ: Quando fomos apresentados, comentei sobre três problemas sérios: um é a falta de estacionamento para idoso. Não tem na Freguesia, no Pechincha e na Taquara. Você não vai ver uma placa lá.
Talita: Mas terá. Já falei isso até com a CET Rio. Já estão levantando um estudo depois que estive lá contigo. Inclusive lá surgiu a questão, que estava parada também, da volta de algumas linhas e dos pontos para a vans. Já está com processo tramitando por duas frentes, tanto pela SMTE como pela CET Rio. Vou ver se vai precisar ser um decreto do prefeito ou não para ter essa mudança de itinerário, mas já está quase para ser resolvido, e também a questão das placas de estacionamentos para idosos.
JNBJ: O segundo problema é sobre os camelôs. Eles tem todo o direito de trabalhar e ganhar o seu sustento. O problema é quando começa e extrapolar o seu espaço, invadindo a calçada e dificultando a passagens dos pedestres.
Talita: É, mas estamos fazendo operação diuturnamente. Quando te falo que a fiscalização está em cima, a gente tem com a guarda municipal, com a secretaria de ordem pública em vários grupos, dois subprefeitos com cada órgão, justamente para coibir isto. E um dos pontos cruciais do prefeito foi colocar ordem na cidade. Eu estou muito com isso como meta. A gente tem que ter, lógico, esse olhar atento, que a gente está nesse momento de pandemia. A dificuldade financeira de todo mundo, que está complicada. Está tendo muito mais dificuldade do que tinha no passado, mas a ordem publica tem que acontecer. Não dá para achar que o errado virou paisagem. Está ali há muito tempo, virou paisagem? Não, eu ligo para a Guarda Municipal e eu vou lá pessoalmente e, no momento, a pessoa fala: “mas eu votei no Eduardo Paes”. Ok, votou no Eduardo Paes, mas isso não significa que você vai zonear ou continuar com a bagunça que estava acostumado, é isso que eu respondo. Já fizemos algumas operações. Inclusive o prefeito me pediu para começar pela Taquara as operações de ordenamento urbano, comércio ambulante, essas coisas, porque está muita bagunça. A Taquara, acho que de todos os sub bairros de Jacarepaguá, é o que está mais precisando desse choque de ordem.
JNBJ: A Taquara tem um comércio mais forte do que na Freguesia.
Talita: Sim, tem. Tanto que o ordenamento nosso já começou lá. Em março fizemos operação lá e eu fui em algumas porque gosto de ir mesmo. Gosto de ver os agentes em campo. Gosto de ver o que está acontecendo. O Delegado Breno, nosso Secretário de Ordem Pública, tem um trabalho bem minucioso. A pandemia agora estende (as ações) para funcionamento de bar, restaurante, a situação irregular, horários, festas clandestinas, então é muita coisa para um efetivo que não é gigante, mas temos dado conta. É aquilo: “eu votei no Eduardo Paes e você está aqui destruindo a minha festa”. O certo é o certo e você está errado. Não tem muita discussão. E comigo não tem essa. Pode ser amigo, mas tem que fazer o certo. Eu sou muito, muito pragmática nisso. E pode ter certeza que vou estar na rua.
JNBJ: Um outro problema grave, com diversas implicações há muitas décadas, são as invasões às construções ilegais.
Talita: É complicadíssimo, inclusive eu vou falar uma coisa pra você: eu já tive ameaças anônimas. Não sei de onde vem, mas eu tenho tido. Na semana passada, levei a patrulha ambiental na colônia (Juliano Moreira). Na beira da Transolímpica tinha uma pessoa loteando em terreno sem a devida regulamentação. Não dá! Fui lá com o devido trâmite todo: a gente desliga a retroescavadeira, notifica, chama o responsável dono do terreno, vê quem é... É muita coisa errada. É muita construção irregular. E vou te falar, sei que vai render uma pancadinha pra mim porque ninguém gosta que a gente chegue com um trator e derrubem o que estão fazendo, mas eu acho assim: o que está errado está errado e o problema não é meu.
JNBJ: Jacarepaguá tem uma história fantástica. Patrimônio histórico enorme. A Colônia é um deles. Qual é o seu pensamento, quais são as atitudes para os projetos que você pensa em fazer aqui?
Talita: Eu estava na colônia e falei com o prefeito: isso aqui, se fosse em qualquer lugar do mundo, seria um enorme museu a céu aberto. Teríamos muitas coisas recuperadas. Eu queria morar aqui. E ele me disse “ este lugar é lindo, não é?”. E ele conhece muito bem Jacarepaguá. Quando ele me anunciou falou:
“o meu coração é Jacarepaguá”. Ele falou: “Talita, tome conta do meu coração”.
Isso está gravado. E eu passei a viver para isso. Passei a perceber a felicidade da galera quando a gente chega em algum lugar que está mal cuidado, isso pra mim é muito gratificante. Eu vivo para fazer isso. O parque Pinto Teles já é outro. Eu consegui uma escultura que eu pedi na Riotur, eu falei: vamos botar lá no parque Pinto Telles. Estava na Cidade das Artes, e foi parar no Parque Pinto Telles, uma escultura enorme, um polvo de material reciclado...
JNBJ: BRT, de solução a problemas, como vai ficar?
Talita: Acho o tema é uma grande demanda da população e de reclamação que ouço muito que a gente toma pancada, e acho que a gente está aqui pra tomar pancada para poder resolver e responder. O BRT que está em um estado deplorável, triste, desumano. Então, assim: a gente tem que fazer alguma coisa e será feito. o Eduardo tirou o consorcio BRT, vai ter nova licitação, só que enquanto isso a gente (a prefeitura) vai encampar. Não vai ser fácil. Tem que falar principalmente com a população que usa, que precisa de verdade todo dia. A gente tinha 400 ônibus na rua há quatro anos atrás, hoje temos 140. Então é uma diferença absurda, tem que voltar a funcionar, e o prefeito falou isso inclusive em uma reunião interna nossa. Falou assim: “a olimpíada desse meu mandato é o BRT”. Para vocês verem o nível de prioridade. As estações estão depredadas, tem morador em situação de rua, tem que acabar isso, e isso é prefeitura e é ordem publica também, porque aí tem assalto, tem morador de rua, comércio na passarela, não pode gente! Vai ter guarda municipal em todas as estações do BRT.
JNBJ: A manutenção dos ônibus ainda é das empresas?
Talita: Vai ser das empresas, mas o consórcio BRT, que era quem tomava conta, não vai ser mais. Vai ser tudo gerido pela prefeitura. Todos os contratos já foram tirados e vai entrar a prefeitura. Pode vir a ter contrato emergencial, pode vir a ter coisa feita pela prefeitura, mas vai ser tudo ali com transparência, apresentando os valores. Mas vai ser tudo voltado para o BRT voltar a funcionar. Vai ter que voltar a funcionar. Ordem do prefeito.
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